Acompanhando textos, notícias e cenas da circunstância brasileira em 2023, as decisões da justiça em perseguição implacável e declarada a um lado do espectro político, a prosternação do Brasil à governança global como vimos na ONU, as análises viciadas de “especialistas”, a vassalagem de redações, os desatinos intelectuais das Universidades, o primarismo da política econômica centrada num GASTE-SE - O DÉFICIT A GENTE VÊ DEPOIS, a compra e aluguel de partidos e votos com cargos e verbas, a multiplicação e deterioração de instituições públicas encharcadas da companheirada, o silêncio indesculpável de juristas e personalidades (não confundir com celebridades) etc., não há como deixar de perceber uma multidão de seres genuflexos, voluntariamente servidos ao jugo de um poder que se estabelece de modo avassalador, solapando a liberdade e oferecendo em troca a ilusão da segurança, do sossego, uma falsa paz de vida mínima como a de uma ameba.
Assistindo essa horda de estúpidos reverberando por toda parte um antissemitismo cruel, cujas razões nem desconfiam, entre eles a nossa diplomacia com presidência e tudo, cobrando proporcionalidade e um idiota “sentar à mesa” numa guerra entre quem defende mulheres e crianças e terroristas que as degolam ou as transforma em escudos e bombas humanas (aqui) e (aqui), somos obrigados a desconfiar de que realmente estamos em uma luta de fundo espiritual. Não parece possível que tanta irracionalidade seja levada a termo nos dias atuais sem um manto transcendental. “Depois dos judeus, virão atrás de nós, os cristãos. É o fim dos tempos.”, diria minha santa mãezinha.
O Brasil, que em 1947 presidiu a sessão especial da Assembleia Geral da ONU que criou o Estado de Israel, à frente o então ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, se transforma em 2023, sob Luís Inácio, num anão diplomático companheiro de ditadores da pior espécie, fazendo vistas grossas, ou, apoiando explicitamente, como toda a esquerda, a sanha genocida dos inimigos de Israel. A propósito, a Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro – FIERJ, preocupada com a disseminação do antissemitismo criou (aqui), um canal para receber denúncias de publicações com conteúdo discriminatório contra o povo judeu. Que seja útil.
Pensei em como se sentem essas criaturas de moral rebaixada, de sonhos contidos, defendendo o que sabem ser injusto, aderindo à vileza como se fosse a única forma de se manter respirando, negando o obvio, dando as costas à fraude escancarada, desacreditando da própria visão. Alguns, néscios ou em militância servil, como se assinando certidão de cativo, zombam de quem resiste, adulam os ímpios por sempre adular os do andar de cima que nunca alcançarão, encobrem a perfídia num pastelão de esperteza, aplaudem cinicamente o gênio do ilusionismo. Outra parte apenas vai com os outros, respondem ao assobio do líder da manada televisiva, não sabem que tudo isso é uma opção. Como disse Etienne de La Boétie (“Discours de la servitude volontaire”,1576), basta não entregar o que eles querem e o castelo desmorona.
A servidão voluntária é o melhor trunfo do tirano. Contando com ela, não há necessidade de peleja, de disputa, de enfrentamento. O servo voluntário, confortável em sua condição de falsa segurança, dispõe-se prontamente ao chicote do Sistema e, assim, permite que ele se enraíze e se alastre.
Com tímida incursão na poesia e nada além de alguns escassos poemas publicados aqui e ali, mal arremedando o grande poeta, romancista e dramaturgo português Jorge de Sena (1919-1978), dei-me o atrevimento de escrever uma “Ode à Servidão” que vai, como carapuça, endereçada aos que em plena posse de seu status, prestígio, profissão, cargo, teclado e visibilidade, se prostram ao tirano mal disfarçado e ajudam a afundar a sociedade no pântano do servilismo. Com a licença dos leitores e de todos os verdadeiros poetas, segue:
Ode à Servidão
Ó servidão amiga,
amável e adocicada,
como o deleite do repouso,
no colo da mulher amada.
Servidão redentora,
transbordante de atenção,
prenhe de segurança,
descanso e proteção.
Servidão benévola,
carta náutica da travessia,
bússola no meu deserto,
oásis de minha abulia.
Servidão pacificadora,
guia das mentes sem noção,
aparadora das diferenças,
algoz da inspiração.
Servidão impoluta,
saneadora da canalhice,
do choro dos incautos,
da vergonha, da vigarice.
Servidão remitente,
dos crimes praticados,
que desvela a substância,
de que fomos plasmados.
Servidão íntima,
te guardas no escaninho,
disfarças teu cheiro podre,
não te mostres ao vizinho.
Ó servidão encardida,
grilhão nas minhas mãos, ferro nos meus pés,
tens a minha jura e o meu desígnio,
tu és o que sou, sou o que tu és.
Sei, há muito tempo a Ode está fora de moda, a poesia está fora de moda, a justiça, a honra, a verdade, a beleza, a mulher, o homem, a vida, a propriedade, a democracia, a pátria, a liberdade, o amor... foi tudo relativizado diria o maioral de nove dedos. O sentido próprio das palavras foi ultrajado por um adjetivo ou corrompido por um prefixo, o incondicional pertence apenas aos que não se deixaram abater e enxergam além porque se mantiveram de pé. A boa notícia é que, se quiserem, todos podem se levantar.
*Imagem obtida através da plataforma de inteligência artificial DALL - E 3
Parabéns caríssimo Valter, excelente texto, a ditadura do nove dedos asfixia a todos que tem um dedinho de bom senso!!!!!