top of page
  • Foto do escritorvalbcampelo

Opinião pública, ou, jornalismo, para que te quero.


Observando a programação da 11ª semana acadêmica de comunicação, promovida pelo curso de jornalismo da UFAC, com o tema “Jornalismo na era da desinformação”, eu, que não sou jornalista, a não ser que me considere jornalista de opinião (esta é minha 181ª coluna apenas no ac24horas), me sinto, como cidadão e, também, como articulista, um pouco frustrado, porque gostaria mesmo era de um debate sobre a liberdade de expressão. Me satisfaria mais algo do tipo “O jornalismo sob dominação do Estado”, o que corresponderia melhor à realidade atual se considerarmos a investida autoritária que sofremos sob a falácia da “proteção da verdade”.


Ainda neste último dia 23/02, o principal representante do progressismo na Suprema Corte, o Ministro Barroso, que já privou da intimidade do curandeiro “real news”, o criminoso estuprador João de Deus, disse: “O problema é que a desinformação, a mentira deliberada, as teorias conspiratórias e os discursos de ódio violam todos os fundamentos que legitimam a proteção da liberdade de expressão”. Pronto. Temos aí nas palavras do mais proeminente defensor do controle das mídias sociais no campo jurídico, juntamente com o governo petista, a citação das causas que fazem das mídias sociais ameaças à liberdade de expressão. Será?


É importante perceber que os três (os dois primeiros dão no mesmo) elementos citados como causadores de prejuízo à liberdade de expressão exigem provas: É mentira? Até quando é mentira? Dou como exemplos os três (poderiam ser centenas) fatos importantíssimos ilustrados nas figurinhas abaixo. As maiores revistas do mundo gastaram capas e capas dizendo que a terra ia esquentar (1945), depois fizeram o mesmo para dizer que ia esfriar (1977) e agora enchem os nossos dias dizendo que vai esquentar; Lula foi devidamente processado, julgado e condenado por unanimidade, pouco tempo depois, disseram que ele era inocente e lhe deram a faixa de presidente; Durante três anos nos proibiram de falar que a peste tivesse origem em laboratório, tinha que ser de um morcego ou coisa que o valha num dos mercados na China, hoje já pode ser manchete de jornal. Afinal, quem mente? Alguém foi responsabilizado por eventuais danos?

Pois é, a mentira de ontem pode ser a verdade de amanhã, ou, o contrário. Então, segundo o Barroso e o PT, é necessário que entre em cena o dono da verdade – o Estado. Você confia no Estado para que ele lhe diga o que é mentira e o que é verdade? Nem eu.


Do Excelentíssimo Sr. Ministro, restam ainda dois “barrosismos” - teorias da conspiração e discursos de ódio. Ora, se eu disser que existem extraterrestres e eles estão dando sinais de que se apresentarão brevemente, incorro em crime conspiracionista? Preciso provar que eles existem? As forças aéreas americanas recentemente tiveram na mira um objeto não reconhecível e mais recentemente abateram uns troços aéreos que não sabem explicar de que se trata. Isto sem contar com milhares de imagens de avistamentos espalhadas por aí. O Estado vai impedir-me de acreditar e falar em ET’s? E se eu disser que tudo que vivemos atualmente, inclusive controle social, ambiental e doenças, está inserido em uma agenda neomalthusiana, devo ser preso por teórico da conspiração? E se eu disser que é tudo preparatório para a vinda de Deus, conforme a Bíblia, vou ter que provar ou vão prender os que creem no apocalipse? Ou vão revogá-lo do Livro?


Resta o “discurso de ódio”, seja lá o que isso signifique, já que é coisa nova, indeterminada e não graduada de tão subjetivo que é um sentimento. Seria discurso de ódio a minha aversão à tirania de qualquer espécie? Estarei aqui mesmo, neste pequeno texto, sujeito à censura e às penas do Estado barrosiano dono da verdade, apenas por ele aquilatar meu ódio à censura? E se meu “ódio” à censura corresponde ao meu amor à liberdade? E se o “ódio” dos crentes aos abortistas for apenas a outra face do seu amor à vida? Por outro lado, os queimadores e profanadores de templos e igrejas cristãs, estarão livres para odiarem os que creem, suas imagens, ritos e orações? Quem medirá o ódio? Com que régua? Com que direito?


Como não cursei jornalismo, não tenho nenhuma autoridade certificada para debater de modo acadêmico os temas relacionados, sei disso. Mesmo assim, com todas as vênias e sujeito a respeitáveis discordâncias, atrevo-me a, com base em Walter Lippmann, autor de “Opinião Pública”, 1922, rascunhar o que está em jogo.

Antes das mídias sociais, o sistema funcionava como abaixo. Você recebia informações da imprensa, processava em seu filtro de valores, preconceitos, interesses, vínculos etc., se reposicionava de posse da informação e formava sua opinião. Tem-se aí a opinião pública. Mas, lembre-se, a sua fonte originária era a imprensa – tv’s, jornais e revistas, e elas nunca foram neutras, detinham, assim, uma condição extraordinária de manipular sua opinião a partir da mensagem, seja na forma ou no conteúdo, afinal emitiam praticamente todos os inputs. Em linguagem simples, o cidadão comia do que elas davam. Aliás, a sua própria fome era manipulada, mas esse tema fica para depois.


Mas, aí, veio a internet e as mídias sociais e as coisas mudaram. O cidadão soltou-se do cabresto da grande imprensa e foi se fartar de informações, livremente, em outras fontes, tornando-se muitas vezes, ele próprio, o produtor de conteúdo. Um celular na mão e uma ideia na cabeça, diria o cineasta. Lascou o sistema anterior, tanto no poder de manipulação, quanto financeiramente. Dezenas de jornais e revistas fecharam as portas, as tiragens caíram a níveis ridículos, as propagandas idem, nem a Paolla de Oliveira pelada na avenida tira do celular os olhos do sujeito.


Vem então a reação. Os prejudicados foram buscar proteção no Estado. Fogo na floresta. Fakenews! Fakenews! Gritaram a plenos pulmões. Nós somos a verdade, as mídias veiculam falsidades, permitem atentados contra a democracia! Então, pensaram: “Vamos fazer algo, vamos filtrar o que entra no filtro”, e criaram o controle das mídias.


Eis de volta o cabresto, eis o fim da divergência, eis a tirania, eis o Barroso, eis o PT. O sistema, que antes era livre passa a ter filtros para as mídias sociais. Quem filtra? As próprias mídias sob as penas da lei ou o Estado através de seu aparato. Quais os critérios? Acreditem, os critérios serão definidos por gente da espécie blogueira Felipe Neto e comunista Manuela D’Avila. O objetivo final é, como no início da conversa, que a sociedade coma do que eles derem.


Portanto, caríssimos, creio que não se trata da era de fakenews, mas da tirania e da censura, de domínio total da opinião pública, por consequência, do jornalismo como meio, que a meu ver poderia considerar a hipótese de debater o que não é “consenso” arbitrado pelos que se pretendem donos da informação. Infelizmente, é também a era da servidão para os que sujeitam suas palavras, logo, seu pensamento e sua liberdade ao interesse do Sistema. Crimes na internet há muitos – pedofilia, racismo, homofobia, nazismo etc. Que sejam, como todos os crimes, identificados, tipificados, apurados e seus autores julgados e punidos nos termos da Lei. É mais fácil encontrar o autor de um crime cibernético do que um traficante no Complexo do Alemão, a questão, no caso, é de preferência. As mídias sociais eles querem amordaçar, os traficantes eles querem soltar.


Escrevo regularmente no ac24horas às sextas-feiras.

8 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page