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Na sabatina, um PSolista tonto


Das antigas, conservador e cético que sou em relação a certas novidades, assisti especialmente atento a sabatina promovida pelo ac24horas com o candidato do PSol ao Senado, o advogado Sanderson Moura. Isto porque, incensado por tanta gente e se dizendo o “novo na política”, ele poderia, escolado na retórica e umas tantas diplomações, surpreender e me convencer de que, mais do que seus concorrentes, está à altura do cargo que pleiteia junto ao eleitorado acreano. Infelizmente, ainda não foi dessa vez.


Data vênia, não é assim que a banda toca, nobre causídico. Carteiradas platônicas à parte, penso que o candidato deveria, em primeiro lugar, esclarecer a população a respeito da corrente de pensamento político à qual se filia. Não esclareceu, esclareço eu. Aliás, transcrevo do programa partidário do PSol, partido político criado a partir de uma costela do PT que se julgou limpinha e caiu fora antes que a vaga do mensalão afundasse o barco. Lembram da Heloisa Helena? Do programa PSolista, temos já no seu primeiro item: “Uma alternativa global para o país deve ser construída via um intenso processo de acumulação de forças e somente pode ser conquistada com um enfrentamento revolucionário contra a ordem capitalista estabelecida.”. É, portanto, inegavelmente, um partido anti-capitalista e, sendo assim, não podem seus membros, especialmente seus candidatos mentirem dizendo-se a favor da livre iniciativa. Uma coisa ou outra, a não ser que o Psolista acreano tenha inventado um novo sistema e não contou ao partido que integra nem aos acreanos, nem aos sociólogos, nem aos cientistas políticos...


Em segundo lugar, insistiu o candidato por diversas vezes em dizer-se fã do “welfare state”, que significa “Estado de Bem-Estar Social” e refere-se a um sistema intervencionista iniciado na Alemanha em finais do século XIX baseado em assistencialismo e estatização, mas radicalmente renegado pelo partido do candidato em seu programa, que o classifica como capitulação à ordem capitalista. Espero que os PSolistas-raiz tenham visto a ginástica política do seu candidato.


Em terceiro e, muito importante, o candidato “esqueceu” o caráter revolucionário do seu partido, declarado quando em seu programa estabelece como fundamento (item 3), rechaçar a conciliação de classes e apoiar as lutas dos trabalhadores. Parece que os PSolistas não estão para brincar de conselho de anciãos no Senado. Esse negócio de harmonia, negociação, alternância de poder etc., está fora da agenda, o sistema que anunciam é a brutal luta de classes. Me pergunto por que cargas d’água o candidato não fez menção a esse pressuposto quando teve oportunidade na sabatina. Pelo contrário, mansamente se colocou contra a diretriz do próprio partido, o que para quem pretende ser o “novo”, o verdadeiro portador do verdadeiro “espírito público”, soa estranho.


Em quarto, para não passar em branco, o candidato também se disse a favor do agronegócio. Hein!? Até o PSol agora é a favor? Mas, como, se em seu programa e prática política o Psol anda de braços e abraços com o MST e MTST, reconhecidamente invasores de propriedades rurais e urbanas? Lembrei o chefão do partido do Dr. Sanderson Moura, o ativista Guilherme Boulos, que disse em debate com a Marina Silva que o agro MATA. Desconfio que os dois nunca conversaram, ou, então, dada a patente do Boulos no PSol, o nosso psolista está por fora.


Em quinto, na sua insistente condenação dos nossos senadores, o candidato psolista censurou fortemente aqueles que parecem viver apenas de liberar emendas, quando deveriam “pensar o país”. Eu até estava concordando, mas em seguida vi que pelo menos cinco vezes ele falou em liberar emendas para praticamente todos os setores sobre os quais foi indagado, então, pensei “bem, parece que liberar emendas não é assim tão ruim”. Talvez o candidato não saiba que do OGU foram arrancados pelos próprios parlamentares, fatias obrigatórias a título de emendas cujo montante já empenhado em 2022 alcança a cifra de 22,3 bilhões de reais.


Em sexto, o Dr. Sanderson Moura, que se apresenta como único bafejado pelo “espírito público” e preparado para as grandes questões nacionais, enquanto os três atuais são nulidades do baixo clero, não apresentou UMA proposta sequer para o país. Mesmo quando, na sua área, foi indagado sobre o ativismo judicial no STF e se posicionou contrário, ao invés de enfrentar a questão como ela é, vale dizer, como uma exorbitância inaceitável e inconstitucional da Corte, especialmente de alguns de seus membros e sempre pendendo para o lado canhoto da história, preferiu apontar o dedo para os senadores que não teriam alterado a lei para evitar o abuso supremo. Ora, ora. É como no júri, que ele conhece muito bem, o advogado botar a culpa no defunto que não tirou as balas do revólver do assassino.


Por fim, eu, que pessoalmente nem sequer conheço o candidato psolista e apenas ouço elogios à sua inteligência e capacidade retórica, o que deve ser verdadeiro, depois do que vi na sabatina fico com Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, jornalista e escritor conhecido pelo codinome “Barão de Itararé”. Atribui-se a ele a frase humorística célebre: “De onde menos se espera, daí é que não sai nada”.

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