─ Desisti, João, não estou me sentindo muito bem, não vou ao cinema. Mas deixe eu te falar do filme que assisti ontem.
─ Viu o segundo gol no jogo de hoje? O VAR não falha, Francisco, regra é regra, mesmo que seja por um milímetro o atacante estava atrás da defesa, então tá valendo.
─ Discordo da crítica, o roteiro é bom, a trilha sonora está excelente e o retorno dele às telas vale a pena. Está mais maduro, além de ator, é co-produtor do filme.
─ Acho que o novo técnico já imprimiu sua marca. Dá pra notar mais harmonia, mais toque de bola, menos erros de passe.
─ A fotografia também está muito boa, aquela região da África tem cada visual incrível, uma luz..., deve ser por causa da pureza do ar.
─ O problema é a defesa. De vez em quando aquele zagueiro dá umas patadas, quer sair pra briga. Outras vezes vai pro ataque e não volta. Porra! Tem que saber que os caras vêm no contra-ataque.
─ O diretor foi indicado para o Oscar em 2015, é super-premiado, tem uma pegada moderna, e o elenco é extraordinário. Tem uma menina novata lá que tem futuro, viu? Lembra a Natalie Portman em “O Profissional”? É aquele estilo, João.
─ O time precisa ter dois elencos, é muito jogo, não tem preparo físico que agüente. Nunca joga o mesmo grupo. Eu não queria estar na pele do treinador. Duas competições, duas estratégias, adversários diferentes, altitude, campo... o troço é sinistro.
─ João, você precisa ver o filme. Que som, que música! A gente sabe que os caras já usam o som pra criar um clima e tal, mas tem casos em que a música fica mais grudada do que a história. O que seria de Ghost sem The Righteous Brothers, né?
─ Você não entende de futebol Francisco, pensa que é só escalar o time e mandar jogar. Isso qualquer um faz. Hoje em dia tem que fazer curso superior de técnico de futebol. Gasta um tempão e uma grana absurda pra ser técnico, tem até pós-graduação, sabia?
─ A única coisa que não gostei foi do ritmo de algumas cenas. Parece que o roteirista não quer que você compreenda o que está acontecendo. É cada silencio, cada cara muda na tela, que só o ator sendo muito bom pra gente entender do que se trata. Porra, nem todo mundo que vai assistir o filme tem o mesmo nível, podia facilitar um pouco. Se você mudar a vista pro lado um instante, arrisca perder o fio da meada porque o diálogo não ajuda.
Alguém bate à porta.
─ Toc, toc, toc. Posso entrar?
─ Pode, mãe.
─ Levanta, João Francisco, estamos atrasados pra sessão com o Dr. Augusto.
コメント